LEMBRANÇAS DE QUIPAPÁ
Em meados do Século XX
Maria Cleyde de
Ameida Leite
Quipapá
urbe pacata
Lá todos se conheciam
Por isso minhas lembranças
A todos reverenciam
Era muito divertido
Ver Nicodemus passar
Colhendo tudo que via
De um jeito bem singular.
A criançada gritava
E Sá Mastiga corria
É certo que não gostava
Do apelido que ouvia.
Não há alguém que não lembre
Das viagens de outrora
Era Pedro Casadinho
Quem nos lembrava da hora.
Sibitinho vulto lendário
Seu nome ninguém esqueceu
Ele com água do rio
A cidade abasteceu.
O bilhar do Zé Alvino
É alegre recordar
Não havia um só menino
Que lá não fosse jogar
Havia lá no Mercado
Um doceiro que vendia
Um quebra-queixo gostoso
Que com prazer se comia.
Zé Américo era versátil
Em qualquer das profissões
Sempre tranqüilo e sutil
Era mestre em soluções.
Cada um com sua estória
Lembrei de dona Glorinha
Que todo ano armava
Sua famosa lapinha.
O nosso amigo Cabral
Era o Chefe da Estação
Sempre a todos atendia
Com inefável atenção.
A todos aqueles músicos
Que a orquestra formavam
Ficou a lembrança e a certeza
Do orgulho que causavam.
Durval por muito tempo
Foi comerciante com efeito
Até que um belo dia
Da cidade foi prefeito
João do Egyto com o boné
Mais parecia um inglês
E na loja da esquina
Era um “gentleman” com o freguês.
De porte de um alemão
Quebrando sempre no linho
Frutuoso era a imagem
De um estranho no ninho.
Padre Hosana sempre pronto
A palavra de Deus pregar
Mas, traído em seu domínio
Esqueceu-se de a honrar.
Seu Júlio na Miudeza
Que dispunha p’ra vender
Tinha de tudo um pouco
P’ra todos satisfazer.
João de Barros na charrete
Era todo alegria
Do cartório com certeza
Os problemas esquecia.
No coro da nossa Igreja
U’a linda voz ecoava
Era Carmem a nos brindar
Enquanto orando cantava.
No Hotel de Quipapá
Alegres elas surgiam
Dona Rosena e Melânia
aos hóspedes compraziam.
D. Nila,
mestra rigorosa,
Tudo ensinava - até história
Mas, ficou mesmo famosa
Pela sua a palmatória.
Não importava a distância
Que houvesse de percorrer
Chico Bia com certeza
A missa não ia perder.
Laurindo com seu baú
Muitos caminhos trilhou
E vendendo bugingangas
Sua fama se espalhou.
“Considerando os fatores
prepronderantes da vida”
Era refrão do Ferreira
Figura bem conhecida.
Quem tivesse seu bebê
E quisesse batizar
Na casa dos Simões
ia enxovais encontrar
Seu Salvador era calmo
Sua voz mal se ouvia
Mas sua calçada era palco
De conversas todo dia.
Seu Gustavo e seu sorriso
Quem não há de se lembrar
Para o sítio todo dia
Gostava de caminhar.
Zé Galego bem cuidou
E ao patrão correspondeu
É grato a Carlos de Almeida
Por tudo que ele aprendeu.
Cazuza não suportava
De cebola ouvir falar
De “danada” ele a chamava
Para não se amofinar.
Luiz Gonzada cumpriu
Na cidade bela missão
E durante muitos anos
Foi da Matriz sacristão.
Euclides Santos ensinava
Seu cavalo a dançar
E nos carnavais gostava
De suas façanhas mostrar.
Do seu capote a estória
Major Teotônio não sabia
Que era em seu armazém,
Que cada botão se perdia.
Não esqueço os mamulengos
Que seu Durval nos vendia
Também o “Jornal das Moças”
Que ele sempre trazia.
Manoel Rosa uma figura
Que entre os livros vivia
É dele que Quipapá
Tem a mais bela poesia.
De tanto vender fiado
Carlos de Almeida quebrou
Ficou sem a padaria
Pouco foi o que restou.
No Esmeraldino Bandeira
Todos hão de se lembrar
Seu Tenório não negava
Nossos lápis apontar.
Para cuidar dos doentes
Só uma farmácia existia
De Cláudio Lopes Ferreira
Que a todos socorria
Seu Josué sempre pronto
Para o freguês atender
Com um sorriso tranqüilo
Ele sabia vender.
Amaro Araújo fazia
Uma bolacha sem par
Não sei se “regalia”
Ou se bolacha “polar”.
Dr. Soares gostava
De um gamãozinho jogar
E à tardinha tentava
Toda partida ganhar.
Maria Epifânia do bolo
Sua fama se espalhou
Em todos os seus quitutes
O sabor nunca falhou.
Quase ausente de tudo
Antônio Barbosa vivia
Cuidando sempre obreiro
Da pequena padaria.
Dicíola e seu Macêdo
Passeavam à tardinha
E bem juntinhos sentavam
Num banco lá da Pracinha.
Eneron sempre alerta
Dos escoteiros cuidou
Hoje com muito orgulho
O Grupo seu nome adotou
A nossa famosa Bila
Que do teatro cuidou
Pode ficar na certeza
Que grande saudade deixou.
Dizem que Arsênio Campos
Era muito avarento
Seu dinheiro ninguém via
Nem sequer por um momento
Adalberto de Assis
Nas quadrilhas de São João
Comandava os dançarinos
Com grande animação.
Lindas rendas e bordados
As irmãs Maurício faziam
Preparando os enxovais
Das noivas que apareciam.
Albérico, em seu cartório,
Era figura exemplar
O futebol, no entanto,
Fazia-lhe tudo parar.
O cambista Beira D’agua
Um dia se surpreendeu
Com Giza lhe perguntando
“Seu bicho que beira deu?”
Austro Duque casou
Com a jovem Zefinha Teixeira
Mas, se brincasse ele bebia
De sábado a sexta-feira
Senhora muito pacata
Maria das Virgens era
Da nossa pequena cidade
Parteira sempre sincera
Brilhava em todas as festas
Com fogos de artifício
Senhor Nestor Fogueteiro
Era mestre nesse oficio.
Casal muito estimado
Chamava até atenção
Jogavam bem ping-pong
Dona Neusa e seu Leitão
Dr. Caeté de Medeiros
Que foi juiz da infância
Exercia o seu poder
Com rigor e elegância
Jonas, filho de Etelvides,
Dentista e cirurgião
No entanto nunca se soube
Se tinha diploma ou não
Seu Dudé, viúvo tranqüilo,
Com seus filhos vivia
Mas, soube bem conquistar
O coração de Luzia
Guiomar Urquiza foi
Diretora do Grupo Escolar
Sem cerimônia nenhuma
Um dia foi lá morar
Madalena era modista
As moças granfinas vestia
Mas, Minervina, sua afilhada,
Era quem lhe assistia
Humberto Rodrigues (que figura!)
Sempre esbanjava alegria
E por onde ele passava
ia conquistando quem via
Com fita métrica no ombro
Tesoura e régua na mão
O alfaiate Zé Lemos
Alcançava a perfeição
O bom médico Vila Nova
Que entre nós conviveu
Depois que criou fama
Da nossa terra esqueceu
Época áurea do cinema
Edson Alves viveu
E com grandes seriados
Sua casa sempre encheu
José Vicente criou
Duas simpáticas negrinhas
A mais velha era Quitéria
E a mais nova Florzinha
Valdívio e sua “Juvita”(camionete)
Muitas viagens fazia
Quando a gasolina acabava
boa cachaça resolvia
Elízio no seu caminhão
Muita cana transportou
E chegando à Quipapá
Seu grande amor encontrou
Foi na década de cinqüenta
Que Salvatore chegou
Trouxe da Itália a família
E em Quipapá se instalou
Raquel engomadeira
Tinha um filho rapazinho
Coitado! Não tinha juízo
Se chamava Paizinho
“Sá Marica do cartarro”
Vivia a se irritar
Pois a garotada gostava
Seu apelido gritar
Todos hão de se lembrar
Do grande ator Amadeu
Homem simples e educado
Muito cedo faleceu
Seu Gadelha veio de fora
O Clube local fundar
Eram cinqüenta e oito sócios
Todos prontos a brincar
Na loja Maçônica local,
Um homem se destacou:
O cidadão Juca Costa
Muita gente ele ajudou!
Miúdos, bucho, e sarapatel
Seu Avelino vendia
E a famosa lingüiça
Que só Missanta fazia.
Crespo na rua Catende
Tinha pequena destilaria
Fabricava bom vinagre
Que na cidade vendia
Seu Torquato, na Baixa da Égua,
A fonte d’agua aproveitou
Construiu vários banheiros
E muito dinheiro ganhou
Pio Sá Barreto não era de festas
Mantinha-se sempre afastado
Cuidando de suas terras
No seu sítio Acatingado
A família Teodósio
Tinha um box no mercado
Todos eram marchantes
E davam conta do recado
Álvaro de Assis foi fiel
Aos seus políticos ideais
Que uns achavam coerentes
E outros, bem radicais
As Meninas do Correio
Serviram à comunidade
Atendendo a clientela
Com carinho e lealdade
Os Caboclinhos de Urubá
Não sei se ainda desfilam
No domingo de carnaval
Como outrora eles faziam
Seu Natalício Pinheiro
Funcionário municipal
Homem tranqüilo e pacato
Era um amigo legal
As usinas de nossa terra
Que tanta gente empregou
Hoje todas falidas
A fama o tempo apagou.
Quem não lembra dos carnavais
De tanta gente a brincar
Dos caboclinhos de Urubá
Que vinham de longe dançar.
Muita gente boa e querida
Que naquela época viveu
Mesmo não sendo citada,
No coração permaneceu